terça-feira, 18 de março de 2014

Moda brasileira encalha em Paris

Quase um ano após uma grande operação comercial com produtos brasileiros, lançada em uma badalada festa com milhares de convidados e show do Gilberto Gil, a elegante loja de departamentos parisiense Le Bon Marché - que pertence ao grupo LVMH, líder mundial do luxo - ainda amarga prejuízo com os artigos de moda do Brasil. Motivo: os altos valores cobrados pelas grifes brasileiras, de várias centenas de euros, que limitaram consideravelmente as vendas e provocaram um encalhe de peças.

Segundo apurou o Valor, alguns modelos tiveram bom desempenho de vendas, mas no cômputo geral, as vendas ficaram longe do sucesso esperado. O Le Bon Marché só vende marcas muito sofisticadas. Organizadores do evento chegaram a comentar na época que os preços cobrados pelas grifes brasileiras "eram fora da realidade de mercado" e que se os valores fossem mais baixos, o desempenho teria sido melhor.
Alguns exemplos: um top de seda da Osklen custava, no lançamento do evento, € 315; uma saia estampada da marca Pedro Lourenço saía por € 590; era preciso gastar € 1,5 mil por um vestido em tecido jacar e couro do Reinaldo Lourenço. Isso sem falar nos pijamas de seda da marca Adriana Barra (apenas a blusa custava € 525 e, a calça, € 575). Não é à toa que na "Braderie" que terminou no último dia 8, ainda havia vários pijamas, mesmo com o preço mais camarada, de pouco mais de € 100.
"Isso são preços de grifes de luxo mundialmente famosas. O consumidor, na hora de comprar, prefere normalmente os nomes que todo mundo conhece", afirma o consultor de moda Paulo Pereira, que trabalha há mais de 20 anos em Paris para marcas de prêt-à-porter brasileiras.
Chanel ou Hermès, as grifes mais seletivas no universo da moda, são ainda bem mais caras, mas elas estão em um outro patamar em termos de imagem. "A moda brasileira não é competitiva quando chega à França. Os preços para exportação são muito altos e ainda são multiplicados, geralmente, por 2,5 pelos lojistas e se tornam inviáveis", afirma. Além disso, diz ele, a concorrência na França é gigantesca. "Os estilistas do mundo inteiro querem vender no país e a oferta de produtos é enormes."
Para Pereira, além do problema dos preços, a moda brasileira não consegue se implantar em países como a França porque as empresas têm uma "cultura imediatista". "As marcas participam de feiras e, se não vendem bem em um ano, já desistem logo. É um trabalho de longo prazo e, se a presença não for constante, não dá certo."
Procurado pelo Valor, o Le Bon Marché não quis comentar desempenho das vendas de moda brasileira. A empresa havia divulgado no início do evento - que também incluía produtos como alimentos, bebidas, joias e móveis - prever vendas de € 2,8 milhões. No final, segundo apurou o Valor, as vendas teriam atingido € 2 milhões. Este evento com produtos brasileiros teria sido o maior prejuízo em operações comerciais na história do Bon Marché, devido sobretudo aos artigos de moda.
Mas houve sucessos comerciais no "Brésil Rive Gauche", como o dos sabonetes Granado e Phebo. O elegante estande temporário acabou se tornando permanente no Le Bon Marché.

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http://www.valor.com.br/empresas/3447202/moda-brasileira-encalha-em-Paris
Por Daniela Fernandes | Para o Valor, de Paris

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