quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Sem barreiras de classe nem idade: jeanswear gera R$ 7 bilhões e 320 mil empregos

Para se ter uma ideia do tamanho do negócio de jeanswear no Brasil, basta ir para uma rua movimentada em qualquer capital do país. Se você fosse fazer esse teste no centro da sua cidade, certamente veria que a maioria das pessoas veste pelo menos uma peça de jeans. Pois isso dá um pouco a dimensão desse mercado. Isso porque o jeans não tem barreiras de classe econômica e social, tampouco de faixa etária. “A geração Coca-Cola, que tinha o jeans como marca, hoje tem 70 anos”, comentou Marcelo Prado, diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), especializado em pesquisas e análises do setor têxtil e de vestuário.
O jeanswear (tudo o que é produzido a partir do jeans, incluindo-se, claro, calças, mas também biquínis, bolsas e bonés, por exemplo) emprega de forma direta 320 mil pessoas no Brasil, segundo dados do “Estudo do Mercado Potencial de Jeanswear no Brasil”, feito pelo Iemi. Isso significa que o setor gera tantos empregos quanto todo o sistema cooperativista no Brasil — pense em todas as cooperativas de crédito e agropecuárias, e elas ainda são apenas uma parte disso. O valor da produção (a soma do valor de tudo o que é produzido por todos os elos da cadeia, mesmo o que fica estocado) do setor de jeanswear foi de R$ 7 bilhões em 2013, conforme o Iemi. Mas é difícil saber se isso é muito ou pouco. Então, para fins de comparação, vamos pegar um dos símbolos nacionais: a banana. Pois o valor bruto da produção de banana foi de R$ 8,6 bilhões no mesmo ano, segundo dados do Ministério da Agricultura. E agora pense que o jeanswear não é uma indústria inteira, mas apenas um segmento dentro da indústria do vestuário.
O jeanswear é o segmento que mais cresceu entre todos os artigos de vestuário (roupas em geral, meias e acessórios têxteis como bonés, luvas, lenços e echarpes) produzidos no país nos últimos anos, tanto no valor gerado como no número de peças. O segmento representou 8,1% do valor da produção da indústria de vestuário em 2013, índice que era de 6,2% em 2009. Enquanto o valor da produção do jeanswear teve uma evolução de 74,7% entre 2009 e 2013, o setor do vestuário como um todo aumentou 31,9%. No número de peças, o ritmo foi superior a 6% ao ano no período, o que gerou expansão acumulada de 29% entre 2009 e 2013. “Esse crescimento superou a expansão da produção de vestuário em geral no país, que registrou expansão acumulada de 3,9% em peças, ou 1% ao ano”, comentou Prado.
Mas essa evolução na produção é reflexo direto do comportamento do mercado interno. O consumo aparente (a produção mais importações menos as exportações, ou seja, tudo o que é ofertado internamente) aumentou 34,7% no número de peças comercializadas, que passou de 292,7 milhões para 394,2 milhões entre 2009 e 2013. Enquanto isso, o valor gerado por esse consumo aumentou 79,7%, chegando a R$ 8,1 bilhões. Esse aumento muito maior no valor do que no número de peças indica que houve um aumento no preço médio das peças. “O mercado brasileiro é um dos três maiores do mundo”, comentou o diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel.
O Brasil, segundo Pimentel, estaria em uma situação privilegiada. Ele destacou que o país reúne todos os segmentos necessários à produção de jeanswear, como a indústria de acabamentos, de produtos químicos e de lavagens, além de ter empresas com tecnologia reconhecida no mundo todo e algodão de boa qualidade (o segmento consome cerca de 40% do algodão produzido no Brasil). “O Brasil tem tudo isso, é muito competitivo e tem um grande mercado consumidor.” Prado destacou que a produção de jeanswear é muito mais complexa do que o vestuário convencional, justamente por exigir mais etapas, como inserção de acabamentos e lavagens.
Mesmo assim, nos últimos cinco anos, a indústria nacional de jeanswear conseguiu aumentar em 29,9% o valor das exportações. Só que as importações cresceram 261,5% no mesmo intervalo. Além disso, em valores absolutos, não há nem comparação: enquanto as exportações chegaram a US$ 11 milhões em 2013, as importações foram de US$ 184 milhões, favorecidas pela forte valorização do real diante do dólar americano. “Isso afetou a competitividade dos produtos industrializados no país frente aos importados”, disse Prado. Pimentel adiciona outro fator: “A crise de 2008 ainda gera excedentes produtivos, e o mundo todo ainda está sofrendo com isso.” Apesar deste forte crescimento, a participação do importado não deve alcançar mais de 8% do volume total consumido de jeanswear no país.
A médio prazo, com o retorno da taxa de câmbio a uma posição de equilíbrio, a expectativa de Prado é que o Brasil recupere a capacidade de exportar parte de sua produção, desde que se baseie em conceitos consistentes de marca, inovação e brasilidade. “O Brasil ainda é muito competitivo na produção de produtos originais e diferenciados de médio e alto valor agregado, mas não tem como competir lá fora oferecendo cópias de produtos europeus e americanos a preços baixos. Esta estratégia hoje é privilégio dos asiáticos”, afirmou.
Para 2014, as estimativas para a produção de jeanswear são de crescimento de 3,7%, enquanto que para o vestuário em geral são de alta de 2,1%. Com isso, a participação desse produto no mix geral do segmento de vestuário deve passar de 4,8% das peças confeccionadas para 5,9%.
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