A impressão que temos hoje é de que o empresariado brasileiro tem de andar sobre um campo minado e com uma venda nos olhos, não sabendo ao certo que passo dar e em que direção, e ainda correr o risco de encontrar uma surpresa desagradável. Isso faz com que ele fique estagnado ou, então, dê pequeníssimos passos para sair do lugar e atravessar esse campo, sem saber se pisará numa bomba escondida, que pode acabar com todos os seus planos.
Muito alarmista? Pode ser, mas é essa a sensação que o cenário econômico nacional passa ao deixar de lado um planejamento estratégico a médio e longo prazo, com uma política definida, no qual as empresas podem programar seus investimentos e, consequentemente, seu desenvolvimento. Não há uma base segura sobre medidas anunciadas que, num piscar de olhos, passam a não valer mais... Que credibilidade temos para fazer negócios dessa forma, dentro e fora do país? Só temos medidas imediatistas, para “apagar incêndios”, como bem disse em entrevista à Costura Perfeita Ricardo Martins, diretor titular do Centro de Indústrias do Estado de São Paulo – Distrital Leste (Ciesp Leste). “A política econômica atual do governo brasileiro pode ser caracterizada por um total esquecimento dos principais fundamentos da economia, que vem nos orientando no período pós-Plano Real. Na verdade, os agentes governamentais procuram atuar para apagar incêndios, o que não permite projetar um cenário favorável em curto prazo, justificando uma das maiores crises de confiança enfrentadas pelo país nos últimos anos.”
Muito alarmista? Pode ser, mas é essa a sensação que o cenário econômico nacional passa ao deixar de lado um planejamento estratégico a médio e longo prazo, com uma política definida, no qual as empresas podem programar seus investimentos e, consequentemente, seu desenvolvimento. Não há uma base segura sobre medidas anunciadas que, num piscar de olhos, passam a não valer mais... Que credibilidade temos para fazer negócios dessa forma, dentro e fora do país? Só temos medidas imediatistas, para “apagar incêndios”, como bem disse em entrevista à Costura Perfeita Ricardo Martins, diretor titular do Centro de Indústrias do Estado de São Paulo – Distrital Leste (Ciesp Leste). “A política econômica atual do governo brasileiro pode ser caracterizada por um total esquecimento dos principais fundamentos da economia, que vem nos orientando no período pós-Plano Real. Na verdade, os agentes governamentais procuram atuar para apagar incêndios, o que não permite projetar um cenário favorável em curto prazo, justificando uma das maiores crises de confiança enfrentadas pelo país nos últimos anos.”
Ainda de acordo com Martins, nesse panorama não existem condições favoráveis aos empresários brasileiros, principalmente àqueles do segmento industrial, hoje nitidamente os mais afetados pela falta de uma política econômica com bases sólidas. “Com um cenário de descontrole da inflação, a primeira atitude do governo é sempre aumentar, encarecendo ainda mais os custos de produção e atraindo dólares estrangeiros que vêm aproveitar as maiores taxas de juros do planeta, diminuindo a cotação do dólar em relação ao real. Dessa forma, os industriais veem ainda mais agravada sua capacidade de competir com produtos importados, que entram mais baratos e tomam o lugar dos produtos nacionais nas prateleiras. Associada a isso, ainda existe uma crônica falta de competitividade devido ao famigerado “custo Brasil”. Recente estudo da Ciesp/Fiesp indica que os bens produzidos pela indústria de transformação brasileira estiveram 34% mais caros que os produtos importados dos principais parceiros comerciais. Por trás desses preços mais caros, estão alta tributação, burocracia, juros elevados, energia e matéria-prima mais caras que a de seus concorrentes internacionais”, analisa.
Outro ponto importantíssimo que ele destaca é o controle da inflação, que afeta o poder de compra da população e dificulta o planejamento das empresas. “O governo brasileiro tem lançado mão do controle de preços de alguns produtos e serviços que estão sob sua influência, caso dos transportes públicos, combustíveis e energia elétrica, entre outros, causando grande expectativa de aceleração da inflação quando os reajustes desses preços forem autorizados. Logicamente, isso só deverá acontecer após as eleições, deixando para o próximo ano as surpresas desagradáveis.”
A essa elevação de custos, somam-se ainda uma alta e complexa carga tributária, câmbio volátil, elevado custo de capital e financiamentos, baixo investimento, infraestrutura insuficiente e pequena flexibilidade nas leis trabalhistas, de acordo com Thiago Biscuola, economista da RC Consultores. “Claramente, temos um problema, e que é grave porque é estrutural. O país tem mantido um padrão de crescimento muito aquém do que poderia sugerir o nível atual de sua renda per capita. O desempenho da economia entre 2011 e 2014, que deverá encerrar com crescimento inferior a 2% ao ano, denota o esgotamento desse modelo. Independentemente de quem assumir a presidência em 2015, um ajuste estrutural e uma sequência de reformas serão necessários para elevar o país a um novo patamar de crescimento”, observa o economista.
E para que esse crescimento gere algum resultado deve, ao menos, ficar acima do índice inflacionário. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até junho deste ano, no acumulado de 12 meses, era de 6,52%, ou seja, acima da meta estipulada pelo Banco Central, de 6,5%. Como lidar com isso, se nem quem deveria manter o controle consegue fazê-lo?
Para Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o Brasil, para deixar de um país de renda per capita média (US$ 11 mil) e se tornar um país de renda elevada (US$ 22 mil), como é Portugal hoje, precisa crescer, no mínimo, 5% ao ano durante 15 anos consecutivos.
“O Brasil não pode se contentar em crescer 1% a 2% ao ano. Nossa meta é crescer de 4% a 5%, e há espaço para isso. A questão é que a infraestrutura não sai num estalar de dedos, temos de começar cedo. Muito menos a capacitação, que leva gerações. Temos de pensar grande, mas não de uma forma sem conteúdo, pois temos condições de voltar a crescer de 4% a 5% ao ano e traduzir isso numa grande evolução da sociedade brasileira para reduzir a desigualdade social, melhorando nossa infraestrutura, nossas escolas, e caminhar para uma sociedade do conhecimento. Não podemos ficar perdendo para nós mesmos e ficar comendo aquilo que foi construído, pois não há sustentabilidade nesses programas sociais e tudo o mais que temos de fazer para construir uma nação melhor crescendo só 1% ao ano. Não há. Para crescer, tem de haver um bom ambiente de negócios, com regras mais previsíveis, uma visão de futuro bem delineada e ajustes normais ao longo do período”, diz Pimentel.
DESONERAÇÃO PERMANENTE
Desde 2011, 56 setores da indústria brasileira, entre eles o têxtil e de confecção, tiveram uma desoneração na folha de pagamento a fim de dar um fôlego nas contas para que pudessem crescer. A medida, que tinha o dia 31/12/2014 como prazo de validade, teve seu status transmutado para “permanente” no dia 27 de maio deste ano, conforme anunciado pela presidenta Dilma Rousseff. Ela passa a valer a partir do dia 1º de janeiro de 2015, porém, até o momento, não foi formalizada nem enviada ao Congresso uma medida provisória ou emenda à lei que já vigora para que haja alguma garantia de seu cumprimento.
Fernando Pimentel disse que a Abit foi a pioneira em conversar com o Ministério da Fazenda na época do lançamento do Plano Brasil Maior, em 2011, e que a proposta ideal de troca da base de contribuição patronal à previdência social em relação ao setor de confecção girava em torno de 0,7% a 0,8%, enquanto o governo entendia que o valor adequado era de 1,5%. Após uma longa reunião e consultas a empresários do setor, a taxa acordada ficou em 1% sobre a folha de pagamento e, desde então, a entidade vem medindo os resultados, considerando-os positivos, mas não eficazes sozinhos.
Fazendo uma análise bastante sintetizada, Pimentel lembra que 2011 foi o último ano em que a indústria têxtil e de confecção pagou a contribuição patronal previdenciária de 20% sobre a folha, resultando num montante de R$ 2,5 bilhões. Em 2013, o primeiro ano em que ambos os setores pagaram integralmente o mesmo tributo a 1%, a arrecadação foi de R$ 2,3 bilhões. Em termos nominais, a redução na arrecadação aos cofres públicos foi de R$ 200 milhões. Contudo, corrigindo o valor da moeda em 10% nesse período, só para simplificar, para valores atuais, o valor pago em 2011 seria de R$ 2,75 bilhões e, abatendo os R$ 2,3 bilhões pagos em 2013, seria menos R$ 450 milhões para o governo.
Mas a contribuição federal total ainda inclui imposto de renda de pessoa jurídica, contribuição social sobre lucro líquido, PIS e Cofins, que, reunidos, somaram R$ 6,9 bilhões para o governo em 2011 e R$ 7,3 bilhões em 2013. Usando o mesmo critério de correção monetária, o valor efetivo arrecadado em 2011 seria de R$ 7,6 bilhões.
“Então, mesmo com essa desoneração, o setor continuou aumentando sua arrecadação. Nesta conta que aqui está, a renúncia, digamos assim, cai para R$ 300 milhões a menos para o governo. Ocorre que as importações passaram a pagar 1% sobre o valor das mesmas, então, na verdade, o setor, além dos R$ 2,3 bilhões pagos de contribuição patronal à previdência em 2013, teve mais uns R$ 150 milhões decorrentes da taxação da importação. Então ele pagou R$ 2,45 bilhões, arrecadou esse valor por conta de sua estrutura. Na verdade, a diminuição da arrecadação do governo foi bastante inferior àquela que originalmente estava se prevendo, ao mesmo tempo em que trouxe o benefício para a indústria”, pondera Pimentel.
“A indústria já enxergava e vinha lutando para que houvesse uma antecipação do sistema que iria viger após 31/12/2014, pois isso é fundamental para que as empresas possam se estruturar em seus modelos de negócios.
Isso foi atendido na medida em que a presidente, em maio, garantiu que será uma política perene. Agora, temos de ver de que forma isso vai para o Congresso. De qualquer maneira, nós da Abit fizemos duas sugestões ao governo: a primeira é que o valor percentual a ser pago seja aquele originalmente proposto por nós, de 0,7% a 0,8%; a segunda é que o regime possa ser optativo dentro da própria cadeia que está desonerada, ou seja, a empresa poderia aderir ou não a esse modelo, de acordo com suas necessidades”, afirma. Além disso, também foi solicitada a inclusão das lavanderias industriais nesse benefício, mas, no momento, o governo não está aberto a novas incorporações.
Para o economista Thiago Biscuola, a desoneração paliativa deu certo fôlego às confecções, mas seu efeito não foi suficiente para garantir um ganho de competitividade que fizesse frente à volúpia dos importados. Além dos encargos trabalhistas, que na China, por exemplo, giram em torno de 12% do salário e aqui, mesmo com a desoneração da folha, ultrapassam 100%. Quem consegue crescer dessa forma?
Na opinião de Ricardo Martins, do Ciesp Leste, devemos ainda observar que, no setor confeccionista, muitas grandes empresas já haviam terceirizado diversos de seus processos produtivos, reduzindo efetivamente o custo de mão de obra e, dessa forma, o ganho esperado pela desoneração pode não ter um impacto tão significativo na redução de custos. “Mas há de salientar-se ainda que, qualquer que seja a iniciativa no sentido de reduzir a carga tributária, principalmente aquela relacionada ao custo de mão de obra, é benéfica, mas não suficiente para garantir perspectivas melhores à indústria brasileira.”
O IMPACTO NAS EMPRESAS
As consequências dessa política econômica sem direções definidas impactam diretamente o dia a dia das confecções, e mesmo uma de grande porte, como a Fakini Malhas, de Pomerode (SC), sente seus efeitos. Francis Giorgio Fachini, diretor comercial da empresa, diz que a situação é bastante frágil, com forças puxando para lados opostos: enquanto o governo se preocupa somente em arrecadar, o mercado consumidor está cada vez mais ávido por preços baixos e consumo conservador. “Vivemos num falso mar de otimismo, ora amenizado pela Copa do Mundo, ora ofuscado por eleições. Vemos um 2014 bastante delicado”, diz Francis. Ele explica que, para este ano, dentro da empresa, o crescimento é moderado, com muita cautela, e não prevê grandes avanços. “Temos trabalhado constantemente em revisão de custos e de processos internos, a fim de não aumentar nossos preços de venda, além de buscar novas soluções em matérias-primas, insumos e serviços prestados por terceiros”, revela.
Para Júnior Lorensini, diretor da Le Rêve Jeans, que faz parte do Grupo Loors, localizado em São Jorge do Patrocínio (PR), detentor das marcas Loors e Le Rêve Jeans, a desoneração no setor foi benéfica, por se tratar de um ramo que utiliza muita mão de obra em sua produção, e trouxe bons resultados para o grupo, mas o verdadeiro resultado efetivo será sentido somente em longo prazo. “A indústria não consegue arcar com os investimentos necessários para suprir a demanda doméstica e aumentar sua produção”, ressalta.
Flávio Feres, diretor de marketing da Vestem, grife paulistana de moda fitness, diz que a empresa nasceu justamente em 2011, ano do anúncio da desoneração, então, ainda não conseguiu mensurar essa mudança. “Mas esperamos que esse incentivo nos beneficie o mais breve possível, já que a Vestem está com planos de expansão da marca”, conta.
E, se a produção na confecção sofre, o setor de maquinário se torna altamente sensível. Há mais de 25 anos no mercado, a Sun Special, que fornece máquinas de costura para empresas de todos os portes, vê na falta de uma política interna de proteção à indústria e na crescente entrada de vestuário importado um sentimento de incerteza para os confeccionistas, que têm postergado seus investimentos na troca de equipamentos para aumentar a produtividade. “É importante os sindicatos e órgãos responsáveis estarem discutindo ou criando fóruns com o objetivo de avaliarmos aonde chegamos e aonde vamos chegar. Hoje é muito fácil notar que há muito mais roupas expostas nas lojas com etiquetas da China. Isso é ruim, pois desestimula as empresas a produzir, ocasionando o encerramente de atividades e, com isso, menos pessoas ocupadas”, finaliza Ethiane Ribeiro, diretora-executiva da Sun Special.
E, se a produção na confecção sofre, o setor de maquinário se torna altamente sensível. Há mais de 25 anos no mercado, a Sun Special, que fornece máquinas de costura para empresas de todos os portes, vê na falta de uma política interna de proteção à indústria e na crescente entrada de vestuário importado um sentimento de incerteza para os confeccionistas, que têm postergado seus investimentos na troca de equipamentos para aumentar a produtividade. “É importante os sindicatos e órgãos responsáveis estarem discutindo ou criando fóruns com o objetivo de avaliarmos aonde chegamos e aonde vamos chegar. Hoje é muito fácil notar que há muito mais roupas expostas nas lojas com etiquetas da China. Isso é ruim, pois desestimula as empresas a produzir, ocasionando o encerramente de atividades e, com isso, menos pessoas ocupadas”, finaliza Ethiane Ribeiro, diretora-executiva da Sun Special.
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