Para as grandes marcas, altos tributos e crescimento menor da economia dificultam a entrada e a expansão dos negócios no país.
Loja da Hugo Boss do Shopping JK Iguatemi - São Paulo |
O mercado brasileiro de luxo, que nos últimos anos se tornou uma alternativa significativa para as grandes marcas internacionais, tem apresentado resultados mais tímidos do que o planejado.
O setor é um dos únicos que cresce acima da média da macroeconomia mundial, com alta de 10% no último ano, de acordo com a consultoria Bain & Company. Para o Brasil, a previsão é de que o mercado de luxo cresça 25% entre 2013 até 2017.
Segundo pesquisa realizada pela La Clé, consultoria expecializada em luxo, a classe A brasileira gasta em média R$ 3,5 mil por mês com roupas e bens pessoais. Apesar do valor alto, algumas empresas de luxo têm dificuldades para expandir suas operações no Brasil.
Em 2012, foi possível verificar uma aposta alta do setor de luxo no Brasil, com o desembarque de diversas marcas inéditas, como a Lanvin, Balenciaga e a Goyard, devido à abertura do Shopping JK Iguatemi, em São Paulo.
Especialista em mercado de luxo e diretor da Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Silvio Passarelli explica que as marcas que se instalaram no Brasil no último ano estão mais realistas quanto a seus planos. Entre as razões estão a taxa de crescimento menor da economia e o alto imposto de importação, que faz uma peça de roupa, por exemplo, ficar em média 35% mais cara. Além deste, são cobrados outros impostos, como o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), PIS/Cofins e o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), o que infla o preço do produto em até três vezes em comparação ao original.
Segundo Rafael Castello, diretor da Hugo Boss no Brasil, marca de roupas e acessórios de luxo presente em cerca de 125 países e que conta com 11 lojas no País, os entraves tributários prejudicam o crescimento local. "A alta tributação é uma punição imposta pelo governo ao consumidor brasileiro, que poderia ter maior acesso ao consumo de luxo, caso tivéssemos preços equivalentes aos da Europa e América do Norte", diz Rafael. Ainda assim, a empresa confia que o mercado de luxo brasileiro continuará a crescer.
Já para Hélio Bork, representante da Bang&Olufsen no Brasil, marca de luxo dinamarquesa de produtos de áudio e vídeo, as expectativas da marca ao vir para o País foram muito maiores do que os objetivos alcançados. “As dificuldades operacionais e tributárias do Brasil frustram todos os investimentos externos”, declara Bork. “Parece que todo o otimismo do passado recente foi absorvido pela enorme sede do governo em arrecadar mais”, diz o executivo.
No entanto, a empresa planeja uma mudança de estratégia para se adaptar ao atual cenário da economia e aos tributos sobre produtos importados e recentemente abriu mais uma loja em São Paulo, no Shopping JK Iguatemi. “A fábrica, em sua essência, acredita que o Brasil voltará para o caminho bom”, declara Hélio Bork.
CONSUMIDORES FOGEM DAS TAXAS
Enquanto as previsões para o mercado de luxo no País continuam acima da média, os gastos dos brasileiros no exterior atingiram US$ 22,233 bilhões em 2012, valor recorde desde o início da série histórica iniciada em 1947, segundo levantamento do Banco Central.
Parte do dinheiro gasto no exterior poderia ter circulado no Brasil se os impostos para os itens de luxo diminuíssem. Para Daniela Daud Maluf, diretora da consultoria de mercado de luxo La Clé, os consumidores da classe A sabem que pagam no mínimo 30% mais caro nos produtos de luxo no Brasil. “Lojas aqui tem todas, agora os consumidores querem pagar o mesmo preço que pagariam lá fora”, declara Daniela.
Segundo pesquisa realizada com mais de 200 mulheres com renda mensal acima de R$ 30 mil, as compras mais caras são realizadas no exterior. “A consumidora de luxo [que viaja para o exterior de 2 a 3 vezes por ano em média] compra no Brasil em situações de necessidade pontual. Ela não vai viajar apenas para comprar um sapato, então gasta aqui. [Mas] Ela tem consciência de que está pagando mais caro e reclama”, afirma Daniela.
Para contornar a situação e manter uma cartela de clientes que aceitem pagar mais caro aqui pelos produtos que poderiam comprar durante viagens internacionais, as marcas de luxo apostam em um serviço diferenciado. “Apostamos nos serviços como cafezinho, champanhe, concierge, embalagem, entrega em casa e um lugar reservado na loja para que ele possa fazer sua compra com privacidade”, explica a diretora geral da joalheria de luxo Tiffany & Co. no Brasil, Luciana Marsicano.
Loja da joalheria Tiffany, no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo. |
Outro atrativo para o consumo de itens de luxo no Brasil é a possibilidade de parcelamento do pagamento. “As únicas lojas da Tiffany pelo mundo que fazem parcelamento são as lojas do Brasil”, afirma Luciana.
Rafael Castello, diretor da Hugo Boss no País, concorda com Luciana: "O parcelamento é um grande facilitador para que um consumidor ingresse no mundo das marcas de luxo. Mesmo que um item não esteja no seu alcance financeiro para uma compra à vista, quando parcelado ele torna-se palpável sem necessariamente comprometer suas finanças".
Para Luciana, o sentimento continua positivo em relação ao País. “Acreditamos no potencial do mercado brasileiro. Este ano mesmo vamos abrir nossa quinta loja no Brasil – a primeira no sul, especificamente em Curitiba. E nossas vendas, até o momento, estão batendo nossas metas”, revela Luciana.
Via Ig Economia - por Murilo Aguiar
Link: http://economia.ig.com.br/empresas/comercioservicos/2013-04-21/industria-do-luxo-cai-na-real-no-brasil.html
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