Alexandre Herchcovitch tem razão quando, em entrevista à Folha, publicada na segunda (28), diz que o debate sobre o subsídio público para desfiles, via Lei Rouanet (mecanismo de incentivo à cultura via isenção fiscal), foi raso.
Tão raso que, terminada ontem a edição de inverno 2014 da São Paulo Fashion Week, nenhum dos três estilistas envolvidos na polêmica - ele, Pedro Lourenço e Ronaldo Fraga - sabiam ao certo o que a discussão significa para a indústria do vestuário.
Por causa da polêmica que se seguiu, Lourenço precisou cancelar seu desfile - vale dizer, um dos melhores dessa temporada - em Paris, porque não conseguiu angariar patrocinadores. Na SPFW, desfilou com ajuda da Apex-Brasil, braço do governo que promove as exportações.
Alguns estilistas, protegidos sob a redoma da paparicagem de editores de moda, assessores e empresários, não comentam o assunto. A frase "é hora de unir forças", dita em uníssono nos bastidores, poderia, aqui, ser trocada por "é hora de negar".
Negar a crise nas vendas; negar que a cultura de moda no Brasil não se desenvolve a partir das passarelas (e sim, das ruas); e, mais importante, negar que a cadeia produtiva nacional não irá se beneficiar com os aportes milionários que, em breve, podem ser captados para apresentações.
É preciso olhar mais a fundo para entender o último ponto. Em 2010, no início das discussões entre governo e indústria, falava-se em estímulo à cadeia por meio de políticas públicas que unissem os eixos empresariais, criativos e institucionais da moda.
O "soft power", conceito citado pela ministra Marta Suplicy para levar a imagem do país ao exterior e para justificar a captação dos recursos, não era discutido naquele tempo.
Ao que parece, devido à falta de consenso sobre as necessidades da indústria da moda - houve discussões acaloradas no primeiro encontro com o setor - foi preciso mudar a frase "impulsionar a economia criativa" para "internacionalização da criatividade".
Internacionalização que não poderia vir em pior momento. A entrada de grifes estrangeiras no Brasil e a "invasão" das lojas de fast fashion internacionais põem em xeque a relevância da costura brasileira na escolha dos clientes.
Pesquisa do birô de tendências Stylesight, divulgada durante a São Paulo Fashion Week, afirma que 80% dos consumidores de luxo daqui compram roupas fora do país).
Jorge Grimberg, analista do portal, defende a tese de que as grifes brasileiras precisam "rever seu posicionamento de marca e se inspirar cada vez mais em elementos da cultura nacional". Isso, pensando no mercado interno, não no internacional.
Numa atitude corajosa, o estilista Dudu Bertholini decidiu não desfilar nesta temporada o inverno 2014 da grife Neon, que mantém com a designer Rita Comparato.
"Somos mais imagem do que produto. É hora de pensar nos negócios", diz ele, responsável pelos conceitos mais solares e impactantes do evento. Ele prepara 14 licenciamentos para 2014.
Entre farpas, cochichos no pé do ouvido e olhares de reprovação para aqueles que forem contra o "statement", uma fatia considerável da moda brasileira continua a olhar para o próprio umbigo.
"Como era de se esperar. Estilista não resolve os problemas da moda, só os seus", diz André Hidalgo, dono do evento Casa de Criadores.
À espera de comentários elogiosos que só contribuem para inflar egos e estimular a mimice com a qual são acostumados, os designers podem distanciar ainda mais o brasileiro de suas criações.
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